Quando acordei já senti
um coração em falso
não te achei aqui, nem ali, nem lá
não era metade, nem lamento
era só o presente passando ao largo do largo da saudade
um coração em falso
não te achei aqui, nem ali, nem lá
não era metade, nem lamento
era só o presente passando ao largo do largo da saudade
termina assim, sempre antes de sabermos
quando pareceu mais grave fez-se gasto
quando pareceu intenso fez-se fraco
terminou sóbrio quando urgia embriagado
não apelei ao melhor amigo, nem houve uma tarde amarga
foi de graça, entendi assim
o amarelo desamarelou na manhã de domingo
encontrei no passo da segunda-feira
o sentido da caminhada, era deixar passar:
chuva que não molha, deixe-a
termina assim, o nó na barriga não amanhece,
o sol desce
e tanto faz qual dia será
não, não há nada em troca
quem sabe alívio, eu saí à rua
e a civilização desaparecia,
não desesperei catástrofe, havia talvez uma hipótese
o tambor da nossa terra parou de bater,
o poema era o último repique
numa via mal remendada
notei que a vida exigia ainda mais,
era março eu tinha de sorrir:
o perfume do outono trouxe
o assovio do meu avô e um vagalume acendeu
entendi o amor na solidão.